quarta-feira, 19 de março de 2014

Desabafo


A ti dediquei os meus melhores anos, meus melhores sentimentos. E também os piores. A ti entreguei o meu coração, meu corpo, minha alma. Recebi a cama fria, a janela aberta, um pouco de seu sangue entre minhas unhas.  
A ternura de meus toques, naquele dia, viraram garras a cortar sua pele numa desesperada tentativa de não te perder-te. Perder? Ora! Como se perde algo que nunca se teve?  Eu não te perdi. Perdi minha dignidade, minha individualidade, minha capacidade de amar.  
Não lhe culpo. Nunca pediu que eu dedicasse a ti, meus dias. Mas aqueles olhos... Eram olhos de fim. Não quero vê-los novamente.  Não quero olhando pra mim. E nem para ninguém. O amor acabou. Acabou. Acabou. Assim como as intermináveis noites fora de casa, como as tentativas frustradas de te agradar. Assim como sua vida, Querido.  
Agora estamos aqui, seu corpo está gelado. Sente agora como eu me sentia? Queria poder aquecer-te. Não posso, estou mais fria que você. Meu sangue não circula mais. Repouso minhas coxas entre as suas, findo aqui meu sofrimento, minha incapacidade de saber que o fim chegara muito antes de nossa morte. Ainda sinto o cheiro de seu suor, do barro que traz em seus sapatos. Aos poucos perco os sentidos, sinto que minha hora se aproxima.  
Descanso meus braços entre seu peito. Que a lição a vida nos dá. Precisei aprender a morrer para aprender a enxergar que o fim é o fim e não um recomeço. Sim, nosso fim é o fim. Não o final de uma história de amor, mas o final de uma dor, de uma sensação de inutilidade. O fim do arrependimento. Sinto meu coração cada vez mais lento, já não respiro. Preciso ir. Seus beijos: Nunca mais.

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