sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Tempo

O Tempo passa. E passa sempre. Atropela sonhos. Destrói planos, mata pessoas. Viola sentimentos escondidos, retratos rasgados e lembra o esquecido.

O Tempo não tem endereço. Não cria apreço. Não tem preço.   Pega-lhe pelo pé, o arrasta com a força de seis homens. Não há quem fique imune. Não há quem fique. Não há quem o destrua. Nem quem o suporte. 

O Tempo não faz reservas. Atravessa suas coxas, escorre pelas pernas e mostra as marcas no pescoço. Traz consigo a dor de não parar, a confusão de não morrer e uma fina capa de esquecer. 

Com seus movimentos indesejados, transita entre futuro e passado, vasculha sem pudor cada ponta de pecado, pondo o dedo na ferida que já devia ter secado. Não tem piedade que o segure. Não tem perdão que o ampare. Nem quem o faça parar.  

O Tempo faz do mundo um salão e torna a vida uma dança. Girar-se-á você na música que Ele tocar. Formar-se-á, o seu quadril, no desenho que Ele esboçar. Há de criar em ti uma doce ilusão do desmemoriar.  

Tornar-se-á, o Tempo, em sua vida seu algoz e seu deus. A ele deve suas preces e xingamentos. Suas mercês e desgraças. Sem poder vingar-se ou esconder-se. Com Ele há de caminhar por toda a vida, zombando de ti.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Um tabu novo e a conta, por favor.

Nos anos 60, uma atriz, hoje pouco (nada) lembrada, fez na extinta TUPI o primeiro beijo entre duas mulheres.  Era um teleteatro chamado "Calúnia". O tempo fez com que as fitas se perdessem e apenas a memória e algumas fotografias ficaram. A população esqueceu.

Pois bem,  decadas depois o assunto de "beijo gay" passou a ser retomado. Reiterado. E retraído pela parcela "puritana" dos espectadores.

Amor à Vida está longe de ser pioneira nesse assunto,  mas trouxe algo diferente. Trouxe o público (a maior parte, pelo menos) ao lado do casal. O que os fez protagonistas.

No SBT, não há muito tempo, duas atrizes se beijaram em uma novela que atendia por "Amor e Revolução". Gisele Tigre e Luciana Vendramini se dedicaram, mas não foi um alarde. Não foi um marco.  Não que o público não ligasse. Eles simplesmente não viram.

Na Globo, o beijo parecia cada ano mais difícil.  Em "A Próxima Vítima" os atores André Gonçalves e Lui Mendes foram espancados, por interpretarem gays.  Em "Torre de Babel", o autor Silvio de Abreu, se viu obrigado a matar duas personagens por serem lésbicas.  Em "Mulheres Apaixonadas", as personagens só trocaram um selinho, por estarem em uma peça de teatro onde uma interpretava um homem. Na novela "América" um beijo chegou a ser gravado. E vetado.

O que parecia  estar longe de acontecer naquela emissora, aconteceu. Mais que um beijo, os personagens de Mateus Solano e Thiago Fragoso tinham carinho. Tinham afeto. E tinham um público torcendo. Esse beijo é uma esperança para que os próximos sejam sem dramas ou polêmicas, como é aqui, na vida real. Um beijo comum.

Nos anos 70 o divórcio era assustador. 80 a independência feminina deixou muitos machistas de cabelos em pé.  A sociedade, que parecia não suportar, absorveu. Hoje é natural. Amanhã o "beijo gay" será só mais um beijo.

Um tabu novo, e a conta, por favor!