terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Não é Fácil Ser “Valesca” em Terra de “Amélias”


Amélia que era mulher de verdade. Sem vaidade, sem voz. Essa é Amélia, “a mulher de verdade”.  A mulher que se cala diante da sociedade. Que é propriedade, primeiro do pai, depois do marido. Se conseguir, também do chefe.  Não é fácil ser Valesca.

Não acompanho a carreira dela. Não sou crítico de música e não tenho tal pretensão. Acho divertida, acho contrassenso, acho mulher, acho profana. E aplaudo.  Dona seu corpo, dona de sua sexualidade, dona do seu sexo. Não é fácil ser Valesca.

Em terra de Amélia, Valesca é vadia. É puta. É piranha. E outros mil sinônimos que eu poderia listar. Em terra de Amélia, Valesca não é exemplo. Valesca  é proibido. Fere. Será que dói ver uma mulher tão dona de si? Em mim não. Mas em terra de Amélia, ser Valesca dói.  

Pode me xingar  de Valesca ou do que você quiser,  aliás, deve ter pelo menos umas três Amélias fazendo isso nesse exato momento. Não me preocupo. Preocupo-me é com sua cabeça pequena.

Valesca pode não ser uma Simone de Beauvoir, mas ama seu corpo e quer ter o controle sobre ele tanto quanto. Pode não escrever textos brilhantes como a feminista francesa, mas sabe falar para as massas como ninguém: “Vê se para de gracinha. Eu dou pra quem quiser, que a  porra da boceta é minha”.


Não é fácil ser Valesca! 

domingo, 13 de julho de 2014

Cobertor


Em seus olhos me afogo
Em seus braços me deito
Em seu peito, meu pijama.

Sob seus carinhos adormeço
Em sua cama permaneço
Perco os sentidos
Não sei se mereço. 

Sinto as pontas dos dedos
Em meu dorso correr
sinto falta de ar
Sinto-me inflar
Um gemido escapar.

Entre suas pernas morar
Com a  boca  umidecer
Seus pés beijar
Seu cheiro gozar
De você cuidar
Não sei se mereço.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Eu vi

Eu vi
O seu jeito de falar
Sua voz faltar
Seus olhos a marejar
Aos encantos dela se entregar. 

Eu vi
O encontro desgraçado
Um amargo abraço
Tu dançastes no compasso
Não vestia mais os trapos
Eu era só o caco.

Eu vi
Uma chama a queimar
A minha a apagar
Uma pequena sobra de lar
Lagrimas a rolar
Portas a fechar.

Eu vi
Janelas a abrir
Bombas a explodir
Retratos a voar
Alguém há chegar
E eu hei enxergar.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Flutuar

Lágrimas rolam
Soluços escapam
Unhas me rasgam a carne
Atiram-me aos inimigos.

A verdade é imunda 
A mentira, linda e vigorosa
Um fio que rompe
Um vaso que quebra
Uma verdade descoberta.

Dois homens
Um desejo
Um total desespero
Um sujo devaneio.

Lave a alma
Mantenha a calma
Mantenha os pés
Presos ao chão!
Era de giz.

A porcelana quebrou
O vinho acabou
O barco afundou
Eu flutuei.

segunda-feira, 31 de março de 2014

O Brasil vai perder a Copa do Mundo

O Brasil será o grande perdedor desta Copa do Mundo (2014). Não adianta esquemas, novas táticas, nem mesmo as antigas o salvarão do desastre anunciado: a humilhação pública.
O Brasil perdeu. Independente do que acontecerá com a Seleção. O Brasil perdeu. E perde todos os dias. Perde vidas, perde empregos, perde até a liberdade.
Tal evento deveria servir para orgulho próprio antes de tudo. Pra fazer funcionar o que não funcionava, pra sanar os problemas que não eram sanados, pra tentar soluções que não eram tentadas, e então, de casa arrumada, receber os convidados. 
A Copa é como aquela visita que você recebe aos domingos: você limpa a casa, toma banho, põe sua melhor roupa, faz um almoço especial e mais tarde ainda consegue jantar com toda sua família.
Mas o Brasil corre, retoca a maquiagem, remenda roupas velhas, varre a sujeira pra debaixo dos tapetes, prende o cachorro nos fundos e as crianças na despensa. Sabe como são crianças, adoram inventar histórias quando vêem visitas...
Faltam menos de seis meses para a Copa e milhões,  bilhões, foram gastos em obras que resultam muito pouco ou nada.  Nenhum aeroporto sofreu uma reforma significativa.  Nenhum investimento em segurança pública foi realmente feito. Nenhuma escola foi reformada ou hospital construído. O metrô não foi ampliado e nem corredores de ônibus criados.
Porém, o que esperar do país de José Maria Marin, o homem que gere a "Operação Copa do Mundo no Brasil", passou seus mandatos de deputado bajulando delegados ligados às torturas da ditadura e superfaturou a sede da CBF?
O Brasil do Neymar, Felipão, Pelé e companhia, pode até ganhar, mas o Brasil de mais de 200 milhões de pessoas, que acordará no dia 14 de julho, enfrentará um trânsito absurdo, metrôs, trens e barcas lotados, o Brasil que precisa esconder no bolso da frente a carteira evitando furtos, o Brasil que perde vidas a quem devia confiar, esse já perdeu.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Desabafo


A ti dediquei os meus melhores anos, meus melhores sentimentos. E também os piores. A ti entreguei o meu coração, meu corpo, minha alma. Recebi a cama fria, a janela aberta, um pouco de seu sangue entre minhas unhas.  
A ternura de meus toques, naquele dia, viraram garras a cortar sua pele numa desesperada tentativa de não te perder-te. Perder? Ora! Como se perde algo que nunca se teve?  Eu não te perdi. Perdi minha dignidade, minha individualidade, minha capacidade de amar.  
Não lhe culpo. Nunca pediu que eu dedicasse a ti, meus dias. Mas aqueles olhos... Eram olhos de fim. Não quero vê-los novamente.  Não quero olhando pra mim. E nem para ninguém. O amor acabou. Acabou. Acabou. Assim como as intermináveis noites fora de casa, como as tentativas frustradas de te agradar. Assim como sua vida, Querido.  
Agora estamos aqui, seu corpo está gelado. Sente agora como eu me sentia? Queria poder aquecer-te. Não posso, estou mais fria que você. Meu sangue não circula mais. Repouso minhas coxas entre as suas, findo aqui meu sofrimento, minha incapacidade de saber que o fim chegara muito antes de nossa morte. Ainda sinto o cheiro de seu suor, do barro que traz em seus sapatos. Aos poucos perco os sentidos, sinto que minha hora se aproxima.  
Descanso meus braços entre seu peito. Que a lição a vida nos dá. Precisei aprender a morrer para aprender a enxergar que o fim é o fim e não um recomeço. Sim, nosso fim é o fim. Não o final de uma história de amor, mas o final de uma dor, de uma sensação de inutilidade. O fim do arrependimento. Sinto meu coração cada vez mais lento, já não respiro. Preciso ir. Seus beijos: Nunca mais.

sábado, 15 de fevereiro de 2014

O Tempo

O Tempo passa. E passa sempre. Atropela sonhos. Destrói planos, mata pessoas. Viola sentimentos escondidos, retratos rasgados e lembra o esquecido.

O Tempo não tem endereço. Não cria apreço. Não tem preço.   Pega-lhe pelo pé, o arrasta com a força de seis homens. Não há quem fique imune. Não há quem fique. Não há quem o destrua. Nem quem o suporte. 

O Tempo não faz reservas. Atravessa suas coxas, escorre pelas pernas e mostra as marcas no pescoço. Traz consigo a dor de não parar, a confusão de não morrer e uma fina capa de esquecer. 

Com seus movimentos indesejados, transita entre futuro e passado, vasculha sem pudor cada ponta de pecado, pondo o dedo na ferida que já devia ter secado. Não tem piedade que o segure. Não tem perdão que o ampare. Nem quem o faça parar.  

O Tempo faz do mundo um salão e torna a vida uma dança. Girar-se-á você na música que Ele tocar. Formar-se-á, o seu quadril, no desenho que Ele esboçar. Há de criar em ti uma doce ilusão do desmemoriar.  

Tornar-se-á, o Tempo, em sua vida seu algoz e seu deus. A ele deve suas preces e xingamentos. Suas mercês e desgraças. Sem poder vingar-se ou esconder-se. Com Ele há de caminhar por toda a vida, zombando de ti.